20100618

Moira-te

O caminho invita. Atente!

Unplugged 5,6.10,11

Há uma geneticidade no andar.
- Dei-me por favor, a lata iluminada.
Respiro com dificuldade.
Cansado o ar que rasteja por dentre..
Nem tudo o que parece foi.
- Cof..cof..coffe!

Há sons.
Teria em mente, com o escarlate, delinear. Mas, minhas gotas têm poderio atormentador.

'Um lamentozinho folk simpático:
- Oh me.

Ao passo, formulo o infinito.

20100603

5101

Noctívagos pousam seus corpos entre meio fios e placas. E com gestos, como se regessem sinfonias, sinalizam o desejo de pertencer à máquina, ou a apenas uma fração de suas jornadas. Concentram-se afim de seus movimentos se concretizarem. E livram-se então de suas coleções circulares, por vezes incompletas. Ao ultrapassarem, plenamente quitados, a barreira férrea, eles nem esforçam-se em mirar os olhos naquele que traçará onde seus definitivos desmaios se darão. Apenas têm a impressão de terem sido indagados e advertidos. Balbuciam alguns sons em resposta, rastejam e caem em seus tronos, macios e frios. Desligam-se. Primariamente enquanto as córneas ainda fixam-se na vertiginosa paisagem, a seguir desprendem-se de seus organismos etílicos. E por fim, caem em profunda negritude...


- PONTO FINAAAAL!!!

Pêndulo



Cala essa minha boca!
Com fala de rimas batidas.
Maquinal vida,
De alma oca.

Roca a garganta que a ti,
Dispara frases gaguejadas,
De sobrancelhas arqueadas,
E sensações que nunca senti.

Sem ti, vago enfermo.
Titubeio em impulsionar meu anseio,
Difícil existir quando apenas meio.
E sem ti, repito, queimo em ermo.

Tuas linhas completas,
De estrofes quão libertas.
Desenrolam em mim, angústias.
Tecem meu pulsar com astúcia.

Tento quebrar a maldita métrica.
E enfim, entoar palavras livres.
Queria que meu ser fosse simples,
E não mais rimar o primeiro com ética.

Neste letal soluçar,
Que em mim ainda reverbera,
Enfrento esta temida quimera.

E num sussurro trêmulo
Declamo:
- Eu te Amo!

Pára o Pêndulo.

20100601

Aporto nesse cais.
Que aos balanços sutis,
Conforto minha Paz.
Domo vocábulos simples,
Como se o ‘Eu’ existisse.
Tomo do cálice da mesmice,
Tonto de rodopios tristes.

In verso (pinheirinho)

Luzes em mantos negros,
Nuvens, seus prantos presos.
Espero de tudo o inverso,
Espelho do mundo, arremesso.

O certo errante em meio a contradição,
O perto distante sem ao menos dar-te a mão.
Tomas partido que o ilógico é o fluir da razão,
Torna este caminho um envolto a achada perdição.

Surto de idéias trocadas,
Ao susto das medidas tomadas.
Desobedece a este fruto permitido,
E faz desta prece um lido sem sentido.

Amor, jardim meu


Aqueces a alva lágrima do frágil jardineiro.
Floresce a rara alma de um esquecido canteiro.
Jardim colorido, movimentado e encantador,
Sempre a cultivar e semear tão intenso torpor.

Dores cessaram em meio a tanta perda,
Flores brotaram à sombra da velha cerca,
Contrastando a vivas cores invisíveis.
Percebidas por cansados olhos, ainda sensíveis.

Doces os perfumes que me guiam em viagens oníricas,
Fortes os costumes que me cercam em verdades empíricas.
Dos canteiros, nada mais verde que a esperança escondida,
Nada mais nobre que a certeza de uma solidão perdida.

Ah, saboroso néctar de flor tão rara e eternamente almejada,
De gosto tão forte e ameaçador, de servidão tão dominada.
Se por um breve e delicado golpe faz de mim um escravo,
Entrego meu frágil rosto, que dele escorre um brilho alvo.

Outono


Secas folhas passeiam em meu leito,
afagam meu peito.

De tão nobre impulso
saltam sem prumo,

Rumo ao vento.
Sem fé nem tempo.

x.x

Jazi aqui uma alma que nunca viveu.
Um suspiro,
Um reverberante “Eu”.

Nada mais que isso,

Nem corpo
Tão morto

Navegante

Busco resposta em teus olhares,
Onde a ilusão espreita sorridente.
Sinto-me cercado por verdades.

Sorriso tão julgador.
Transparece em meu semblante,
Amada dor.

Vem-me logo um receio,
Na calmaria que me trazes.
Diluindo tudo que creio.

As frases agora me fogem.
Junto com elas.
Desejos meus, morrem.

Como dói perdê-las,
Como amo esquecê-las.

Navegantes II

Queres a salvação?
Corre!
Como se tudo estivesse perdido.
Morre!
Como se a água perdesse o sentido.
Acorda!
O prazer reside no desespero.
A corda!
Angústias realizadas num único desejo.

Raros os que resistem ao receio da razão.

Abandona tua matilha,
Aceitas a redenção!

Navegantes I

à Ruan Luca
A faca que cravastes em meu flanco,
Ao silêncio da infantil confiança.
Trouxe-me uma dor, um intenso rancor,
Jazido pela tua mudança.

Minha reação pelo choque,
Foi atirar-te da mesma lâmina.
Temível ato, errôneo alvo,
Atingi tua coxa, tornas-te manco.

Ao fim de nossa vingança pela carne,
Enxergamos nossa barbária,
Ao reflexo de águas calmas,
- Fonte de pureza e sanidade,
De raras almas. -
E vimos com fascinação nossa misteriosa arte.

Há de convir que não somos céticos.
Os significados de nossos versos,
- Nem tão métricos -
Trazem nossa euforia, por ideais incompreendidos.
Ao olhar de meros andarilhos,
Parecemos tão iludidos.
Nossas complexas conspirações,
Alimentam nossa prece,
Enfim encontramos um revolto refúgio:
Delta S.

Sublime maquinária

Imortalizar o instante, em palavras, tornará certo, constante uma realidade maquinal e ensaiada.
O natural não se expressa. É sentido , vivido. Encaixado peça por peça, moldado e transmitido.

Chaveiro

Sim, parecer simples em teoria, sempre pareceria. Quando não se conta que um mundo está em cada um de nós, quando se crê que as tuas sensações e percepções da vida são, por sim, totalmente compreendidas, vividas. Relações são complexas, incalculáveis e eternas.
Veja bem, cabe-se refletir sobre essa eternidade. Por vezes diferente do eterno intenso, ela perdura guiada pelo inconsciente, somando-se à nossa experiência. Como também essa intensidade pode-se manter em sua flor mais viva: a disparidade entre amor e paixão.
A chave é a pluralidade de tudo e de todos. Somos diferente , temos que ser! Pois o aprendizado é a queda, a conversa, o que se confronta com outros. E acima de tudo isso o respeito deve-se vigorar, ultrapassar qualquer silêncio, qualquer atrito. É difícil controlar a inquietação de certos momentos, afinal, somos brutos e frágeis. Escondemos - tentamos...- a fragilidade com imponência. Soberanos.

Ventura

Um semblante imóvel e inexpressivo abordou-me serenamente. Ao fim da ligação, a certeza do próximo capítulo, a fotografia que se seguia. E com um vago caminhar segui em direção à estação. O caminho não mais faz sentido quando previsto. E a mirar a janela e toda a paisagem a correr, sussurrava em voz rouca:
- O mundo em tenro movimento e meu corpo em elegante distância.
Vejo-me sozinho no vagão, nem sequer uma pobre alma me acompanharia sabendo do que me espera... E enfim ouço o apito de minha sentença, levanto-me e desço do trem como segui-se direto ao purgatório.
Quando ao impulso do vento desperto desta inércia, vejo a cerrados olhos, o Mar - morada desta alma conforta e cicatrizada -, sem cerimônias pego a batida estrada de barro, e a jogados passos assanho a poeira que me acompanha.
Sem demoras recolho o envelope, deixado na caixa de correspondências, como instruído ao telefone. Meus olhos nem ousam a examiná-lo enquanto caminho em direção à porta. Ao adentrar em meu refúgio, recoberto de tristes venerações, o adiar do previsto pareceu-me agradável, e a cada degrau adormecia em meio a lembranças, tantas já pranteadas. Uma volta e meia separava o onírico do martírio. - apesar de residir sozinho, mantenho sempre a porta de meu quarto trancada, neste recanto aprisiono meus reflexos, faces que o mundo nunca hão de enxergar. -
Um último suspiro me dá forças, antes da viagem a um pretérito marcado pelo irreal. Esboço um sutil movimento a fim de libertar um lampejo pela cortina aprisionado, e então rasgo a lateral do pesado envelope azul, rabiscado com minhas iniciais. Sincronizado com a lágrima cortante em meu rosto, o anel escorre por dentro do envelope ao encontro da pálida e trêmula palma que o acolhe. O sorriso que se segue desvia a trajetória deste brilho, que só cessa ao encontrar-se com o trabalhado metal. Era essa surpresa que temia; era essa certeza que mantinha. Como que por impulso, coloco o anel gélido e salgado. E ao fechar os olhos, estou a cair em um abismo de vozes avulsas, a assistir um filme de imagens mudas. Minha alma estava decomposta e fragmentada em cada ranhura deste círculo simbólico. Intensa dor e sofrimento, enquanto repassava inconsciente esses momentos, sentia o peito apertado e pulsando desesperado.
Nesse estado rasguei o envelope de vez, revelando-se um papel cuidadosamente dobrado, de aroma familiar. Decifrei a fragrância com um triste suspiro: era o perfume que me seduzira na noite de nosso encontro. Ao passar rapidamente o olhar por toda a carta, a joguei em cima da mesa, dei um sorriso que cortara minha alma em mil pedaços, e calcei os apertados sapatos. Agonizante aquele ambiente se tornara, sufocado em meio à fúria, amassei-a e atirei ao lixo.
Ao sair bruscamente, a batida da porta ecoou em meu abatido corpo. Fui do ódio ao amor sentado no sétimo degrau das escadas. Sob a fraca luz vinda do vitral de mosaicos abstratos, fui absorto em uma paz e plenitude divina. Meu corpo disperso em meio as cores alaranjadas do crepúsculo, ressaltava a aura obscura que se seguia vindo do anel. Como se o perfume o impregnasse com as tantas dores encaradas de sorriso amarelo. Uma delicada essência parecia pairar sobre mim, e após alguns rodeios, admirei o espírito de olhos cheios e harmoniosos, admirei-a como que pela última vez. Parada e formosa ali estava Scarlet, a quem por muito acreditei amar e por pouco pusera-me a chorar. Após uma longa troca de penados olhares, ela murmurou preces amorosas, e com uma face indiferente, e tom maquinal, solfejava canções e juras de amor eterno. Ao fim de suas amargas palavras, com repúdio, entoei abalado e de olhar profundamente cadavérico:
- Precisastes de todos estes anos, a notar que por ti, era loucamente enamorado. Achas mesmo que um escrito de meia folha e cânticos meramente massificados, reverte e cura a simetria de um corpo desfigurado? Não falo só de minha alma, a qual pisastes e a esqueceu na primeira esquina, falo de um corpo. Falo da dor física que me causaste. Um peito destroçado e olheiras profundas de madrugadas a louvar-te loucamente.
Proferi estas palavras com entonação perturbada e soluçada. Como que hipnotizado fitei-a dando-me as costas e descendo pacificamente as escadas. Ao mirar o anel, percebi uma linha, uma minúscula neblina de tom negro que o ligava ao espectro que deslizava sobre os degraus. Ao fim da escada, fui puxado bruscamente para frente, e forçado fui a acompanhar o espírito que levitava em direção a saleta. Scarlet aproximou-se da vitrola, e colocou um disco com algumas inscrições no verso, e soltou levemente a agulha.A melodia que se seguia, nosso hino de amor platônico, eram as palavras que eu sempre estava a cantarolar, a música que embalava meu sono e despertava-me, com um rosto úmido e triste, das minhas ilusões vitais...
'' Os pássaros vêm
Me levar aí
Visitar o céu
E pra ver você levantando o véu
Pra mim ...''
E um longo assobio, de altos e baixos, escapou de meus lábios, seguindo a melodia com euforia.Envolto a uma atmosfera de cores, imagens e gostos vi-me a um palmo do chão, e sutilmente fui ganhando alguns metros do solo, e logo pela janela planei sem esforço. Aos poucos, belos e alvos pássaros me guiaram por entre as nuvens de sincronia lenta e uniforme.
Tua figura deitada em mantos brancos e radiantes a sete passos meus, ritmou minha respiração como se estivesses comigo. E a passos confiantes, te desejando a cada suspiro, deitei-me e fiz dos teus seios o maior dos frutos proibidos, e senti um último gozo pecaminoso em teus castos braços.
Do alto deste berço de agonias e prazeres, admiro a divina vista panorâmica de todo o mundo.
E com arregalados olhos, vejo-me em terra caminhando a encontrar a beira do cais, onde os barcos aportam de suas curtas viagens. Ando com receio, tropeçando em meus próprios passos...
- Scarlet roubaste minha alma? Meu corpo anda inanimado e pálido por dentre as amarras dos barcos pesqueiros. Deixe-me descer, acorda-me deste sonho turbulento. Traz-me de volta à vida!
E uma risada demoníaca ecoou por todos os lados. Sucedendo este ruído tão monstruoso o espectro de minha amada, dilui-se em meio à brisa de ar tão puro, e após um breve silêncio, um gemido de agonia e alegria mescla-se em meus ouvidos, e então a doce voz de Scarlet me consome:
- Ainda és a mesma criança, Victor.Tua eterna infantilidade e crença tão cega, sempre te derruba e fazes da tua face, um espelho trincado e empoeirado. Os que se oferecem a restaurá-lo notam teu frágil ser e se aventuram brincando com tuas emoções, confesso que tais joguinhos são de uma diversão e tanto. Agora cala-te e resuma-se apenas a aceitar o que vê.
E com uma ânsia a escapar-me da boca, mantenho meus olhos fundos e tristes a observar a cena de meu trágico destino...
Meu corpo caminha sem vivacidade e com um quê de admiração ao se dirigir à beirada do cais. Equilibra-se, com um leve jogo de quadril, sorrindo encantado a admirar um brilho. Um astro parece estar em suas mãos, de reflexo forte e tamanho crescente. E toma novas proporções a cada piscar meu daqui de cima. Tento com os olhos arqueados identificar a razão de tanto brilho oriundo das mãos de meu corpo sem alma. Encandeado pela intensidade dos feixes, fico atordoado, e sinto um leve empurrão, um ligeiro toque, que me faz despencar do alto.
Ao cair, ainda atordoado, dirijo meu amedrontado olhar para a nuvem de onde me desprendi e reconheço algumas faces que estão a gargalhar em conjunto, vendo meu espírito em eterna queda. E com um misterioso sorriso retribuo a alegria dos que me assistem caindo. Sinto um forte impacto, uma dor viva e arrebatadora. E ao abrir os olhos, vejo em minhas mãos o metal agora de cor fosca e opaca, que brilhara por tantos anos refletindo nobres emoções, diluindo angústias. Levanto-me trêmulo, e rapidamente salto os degraus restantes da escada. Alcanço o casaco pendurado na entrada, e saio a passos certos e marcados.
Enquanto fecho o portão, o telefone toca. Ignoro-o e sigo pela rua de chão ruivo em marcha forte e tranqüila. Enquanto caminho, flashs do meu devaneio onírico de realidade assustadora me atormentavam e me guiaram ainda mais obstinado à praia. De rosto distante e pensativo, passo pelas pessoas que estão a admirar a vista do deck. Sigo obstinado até a beira da construção de madeira. Respiro fundo e pausadamente, saboreando o gosto do sereno que me acaricia.
- Tuas lágrimas são de um sabor... Scarlet.
Do capote retiro o pulsar vital de quem por mim pranteia. E o atiro as ondas que quebram, anunciando a desgraça da minha efêmera paixão. E a admirar o céu, entôo, entre sorrisos e leves suspiros, algumas palavras de musicalidade espontânea:
- Um dia tiveste este coração que agora pulsa sem obstáculos, e dele fizeste trapaça como uma criança achando-se esperta e vencedora. Agora soluças sem intervalos e pena pelo que um dia tu de mim levastes.
Estendo os braços a saudar a nova e salgada morada do círculo de metal gélido...
E ao final desta simbólica cerimônia, rumo a meu conforto caminho; meu pacato navegar em terras vermelhas, a malandros passos, acalmando a poeira que se assanha.